terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Felicidade

Já não era nem mais tempo
de uma flor nascer.
Era tarde da noite, quase frio.
Noite de lua amarelada, sorridente.
Noite esquisita, com um ar estranhamente bom.
Sentia cheiro de coisa fresca surgida
de um vento além do céu.

Travada.
Paralisia bonita de repente me deu. Senti surpresa desejada.
Menino branquelo me sorriu, tirou a vez da lua.
Me fez olhar duas vezes, cem! Que cor bonita. Tanta luz.
Fui ficando mansa, cantarolando poesia pela pele.
Felicidade era eu, era ele.
Eu abraçava sem parar, alegria colorida, com olhar dilatado,
frequência igual, em Marte (ou seria Júpiter?).
Dançava eu, rodando a saia, e rodava tudo,
e salpicava alguma coisa qualquer entre um olho castanho claro
pra outro olho castanho claro bonito.

O dia veio sorrindo pelos cantos, a lua resolveu ficar
pra sorrir um pouquinho mais.
Passarinho, árvore, voz e violão, tudo lindo, tudo grama,
ele na grama, deitado, roubava o espaço, fazia a cena,
era o ar.
Eu respirava fundo, tão fundo que fui embora, mas voltei.
E tudo ainda era ar.
Fui inventar de olhar pra ele de pertinho, e sai caindo, ladeira
abaixo, dando cambalhota adoidada.

Que cheiro bom, esse menino tem.
Flui nele, ele em mim, sem pensamento que não fosse mais um susto de poesia,
um surto de súbito encantamento.
Quanta prosa tinha nossa pele.
Água arrepiada, chão em algum lugar perdido no céu.
A gente era um.

Menino branquelo dourado,"quanta felicidade!" me disse,
me trouxe.
E eu fiquei.

Lalinha Mendes.

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